Dossiê: Sobre a permanência das diásporas e dos desamparos nas literaturas e nas culturas de língua portuguesa
A empresa colonial ibérica maculou o destino da humanidade, desde o século XV, ao rasgar oceanos e violar territorialidades. Imagens que orientaram o pensamento europeu ao largo de séculos, principalmente entre os anos de 1580 e 1640, quando a união das duas coroas transforma o Pacífico em oceano espanhol, ainda permanecem significando em territórios outrora dominados. Seja pelo feito de Bartolomeu Dias, que em 1487 dobrou o Cabo da Boa Esperança, seja pelo desembarque de Cristóvão Colombo nas Antilhas, em 1492, ou, ainda, mais tarde, pelo perverso e tardio domínio português na África, o imaginário colonial ainda é materializável nos processos da cultura das ex-colônias das Américas e da África. Embora com particularidades nos processos colonialistas de Portugal e Espanha, violência, silêncio e perversão foram marcas perpetuadas pelos atores das forças coloniais, os quais impuseram uma dor infinda nas sociedades autóctones. É a partir dessa potência iníqua, fossilizada nos campos simbólicos do social, que se naturalizou, nos registros oficiais dos Estados modernos, a violência contra aqueles que se situavam distantes das decisões do poder: negros, indígenas e mulheres. Essa condição dos sujeitos comuns deu origem a um deslocamento subjetivo, uma diáspora íntima, que relegou às imaginadas fronteiras das culturas um enorme contingente de pessoas nos espaços das metrópoles e das colônias; sujeitos que viveram longe das apologias nacionalistas, que habitaram, de fato, o fazer da História. Esse movimento gestou um estar entre a euforia e a disforia, entre o reconhecimento do Outro e a negação de si, desvelando sensações de pertença e de (des)pertencimento do imaginário colonial. Esta chamada propõe-se a reunir textos oriundos de investigações teórico-críticas que coloquem em perspectiva as articulações do imaginário ibérico que se apresentam pulverizadas pelo mundo em suas múltiplas nuances desde o século XV até a contemporaneidade.
Organização:
Prof.ª Dr.ª Orquídea Maria Ribeiro Moreira (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)
Prof. Dr. Daniel Conte (Universidade Feevale)
Envio de artigos: até 31 de maio de 2024
Previsão de publicação: até 31 de agosto de 2024