MIME-Version: 1.0 Content-Type: multipart/related; boundary="----=_NextPart_01D66F0B.1CC82350" Este documento é uma Página da Web de Arquivo Único, também conhecido como Arquivo Web. Se você estiver lendo essa mensagem, o seu navegador ou editor não oferece suporte ao Arquivo Web. Baixe um navegador que ofereça suporte ao Arquivo Web. ------=_NextPart_01D66F0B.1CC82350 Content-Location: file:///C:/85899A50/10.htm Content-Transfer-Encoding: quoted-printable Content-Type: text/html; charset="windows-1252"
GUIMARÃES, Hélio de Seixas; SENNA, Marta de (Orgs).
Machado de Assis: permanências. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui
Barbosa: 7Letras, 2018.
M=
ACHADO
DE ASSIS: PERMANÊNCIAS
A obra Machado de Assis: permanências, im=
pressa
em parceria pela Fundação Casa de Rui Barbosa e editora 7Letras e organizada pelos pesquisadores Hé=
lio de
Seixas Guimarães e Marta de Senna, reúne 17 ensaios desenvolvidos por
estudiosos da obra machadiana. Conforme os organizadores da obra, o livro
possui como finalidade reabrir a questão das impressões deixadas por Machad=
o de
Assis em escritores do século XX. Desse modo, como apontam Hélio de Seixas e
Marta de Senna, Machado de Assis:
permanências apresenta-se como uma continuidade de Machado de Assis e o outro: diálogos possíveis, lançado em 2012,
obra em que são explorados os diálogos do próprio Machado de Assis com
escritores da tradição ocidental. Neste livro, é dada ênfase a novas e ines=
peradas
interlocuções de escritores e críticos com a obra machadiana, como indicam =
os
organizadores.
Organizados em ordem
alfabética, segundo o nome de seus autores, os ensaios iniciam com o texto =
do
professor da Universidade de São Paulo e membro da Academia Brasileira de
Letras, Alfredo Bosi. Em “Augusto Meyer: crítica machadiana e memória”, Bosi
investiga as articulações entre crítica e criação nos ensaios de Meyer, em =
que,
conforme o ensaísta, ocorre uma alteração das análises do estudioso gaúcho,=
que
migra do biografismo psicológico para o ângulo estético e estilístico.
Ana Maria Machado –
escritora, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras –, revela, =
em
“A mulher do ex-seminarista brasileiro”, relaçõ=
es de
sua produção literária com a obra de Machado de Assis. A escritora conta que
seu primeiro contato com o escritor fluminense se deu na escola, por meio de
contos, e na adolescência, ao ler D=
om
Casmurro. Após inúmeras releituras do romance, Capitu tornou-se uma de =
suas
heroínas preferidas e foi, por meio de um diálogo intertextual, incorporada=
a
um de seus romances.
O ensaio de Bluma Waddington Vilar – tradutora e escritora –, “O
caloteiro e o cobrador ou como deixar de pagar segundo Machado de Assis e R=
ubem
Fonseca”, explora as relações entre moral e economia nas obras Memórias Póstumas de Brás Cubas e =
Dom Casmurro e no conto “O cobrado=
r”, de
Rubem Fonseca. Vilar destaca que Machado de Assis e Rubem Fonseca valem-se =
da
linguagem da lógica e de metáforas relativas a dívidas para chamar a atençã=
o para
uma relação naturalizada entre o desvio moral e o mercado financeiro.
Os ensaios de Hélio de
Seixas Guimarães, Pedro Moreira Monteiro e Lucia Helena discutem a relação =
de
Machado de Assis com a tradição da literatura brasileira. Em “Presença
inquietante: sobre a incorporação de Machado de Assis ao cânone literário
moderno”, Hélio de Seixas Guimarães – professor da USP e pesquisador do CNP=
q –
tem por objetivo traçar o caminho da assimilação de Machado de Assis por se=
us
posteriores, que foi primeiro incorporado à tradição moderna e depois torna=
do
um clássico da literatura brasileira. No texto, Hélio de Seixas apresenta
autores que se manifestaram a respeito de Machado: Graça Aranha, primeiro a
recuperá-lo; Oswald de Andrade, favorável a Machado de Assis; Mário de Andr=
ade,
para quem o escritor seria sempre um “engasgo” e Carlos Drummond, que reali=
zaria
a melhor assimilação do escritor carioca. Seguindo uma linha temática
semelhante à de Guimarães, o professor de literatura brasileira na Princeto=
n University, Pedro Moreira Monteiro, esclarece, no ens=
aio
“Machado de Assis: uma flor desajeitada no jardim modernista”, a origem do
desconforto modernista perante Machado de Assis. Pedro Moreira afirma que o
escritor carioca não era o “homem brasileiro” de Mário de Andrade, mas que,=
a
partir da década de 1930, buscam-se razões que o definam como tal. No ensaio
“Somente a antropofagia nos une: Machado de Assis e Oswald de Andrade: uma
lição levada adiante”, a professora e pesquisadora Lucia Helena, relaciona o
processo de corrosão na metáfora do verme, presente em Memórias Póstumas, com o pensamento sobre arte e cultura e a
metáfora da antropofagia de Oswald de Andrade.
Ieda Lebensztayn
– pesquisadora de pós-doutorado e bolsista do CNPq –, no texto “O estilo das
patas quebradas: Léo Vaz, professor à Machado”, traz à tona um nome pouco
lembrado da tradição literária brasileira. A ensaísta apresenta a crítica f=
eita
ao livro de Léo Vaz, por ocasião de seu lançamento e rememora a comparação
feita por Monteiro Lobato entre o autor de O
professor Jeremias e Machado de Assis para, na sequência, apontar
diferenças e aproximações entre o estilo dos dois escritores.
João Roberto Faria,
professor de literatura da USP e autor de diversos estudos sobre a relação =
de
Machado de Assis com o teatro, no texto “Machado de Assis encenado por
Ziembinski e Ruggero Jacob=
bi”,
dá prosseguimento às suas investigações no campo teatral. Faria, consideran=
do
comentários sobre as adaptações das peças de Machado apresentadas no século=
XX,
desmente a avaliação de Quintino Bocaiúva de que as peças do escritor
fluminense não eram destinadas ao palco.
No texto “Leitores nas
margens de Missa do Galo”, Juracy Assmann Sarai=
va –
professora da Universidade Feevale e pesquisadora do CNPq –, analisa o ato =
de
leitura e de escrita do conto “Missa do Galo”, a partir das variações
produzidas por Osman Lins, Julieta Ladeira e Lygia Fagundes Telles, que con=
stam
da obra Missa do Galo: variações so=
bre o
mesmo tema e acrescentam nova interpretação à narrativa machadiana.
Assumindo uma perspec=
tiva
comparatista, integram-se os ensaios de Lúcia Granja, Marta de Senna e Regi=
na Zilberman.
Professora da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filh=
o”
–, Lucia Granja, em “De silêncios e silenciamentos: Dom Casmurro e Um copo =
de
cólera”, analisa os romances de Machado de Assis e o Raduan Nassar para
apontar suas afinidades quanto ao tratamento da relação erótico amorosa. A
autora aponta que, em ambas as obras, a figura masculina ocupa a função de
narrador, provocando um silenciamento da voz feminina, o que revela um jogo=
de
poder. Em “Dom Casmurro e São Bernardo: vozes da solidão”, a
pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa, Marta de Senna, aproxima Mach=
ado
de Assis e Graciliano Ramos. A ensaísta mostra semelhanças entre os romance=
s,
como os narradores enciumados que suprimem e modificam fatos, o desejo de
assassinar a companheira e a consciência da impossibilidade de comunicação
entre as pessoas. Regina Zilberman, professora =
da
UFRGS, no ensaio “Autores póstumos: de Brás Cubas à mulher que escreveu a Bíblia”, realiza comparações entre=
as
obras Memórias Póstumas e A mulher que escreveu a Bíblia, de
Moacyr Scliar. Zilberman aponta aproximações en=
tre as
duas narrativas afirmando, por exemplo, que possuem referências bíblicas e =
que
tratam do tema da criação do universo.
Já o doutor pela
Princeton University, Marcelo da Rocha Lima Die=
go, em
seu ensaio “Machado e Nelson: matrizes da perversão”, estabelece uma
continuidade entre o escritor do século XIX e o do XX no que tange ao tema =
da
perversão. Para isso, Diego disserta sobre referências feitas por Nelson
Rodrigues a Machado de Assis em textos jornalísticos, sobre as relações dos
dois escritores com o jornalismo, o teatro e a cidade do Rio de Janeiro e s=
obre
a coincidência de temas e enredos nas produções dos dois escritores.
Marisa Lajolo –
professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e docente aposentada da
Unicamp –, no ensaio “Monteiro Lobato: assíduo, dedicado e amoroso leitor de
Machado de Assis”, assinala que o escritor carioca foi um assunto recorrente
para Monteiro Lobato. Mencionado em cartas e referido em textos, Machado de
Assis foi tratado como a excelência literária para o criador do Sítio do
Pica-Pau Amarelo.
Em “Machado de Assis,
Woody Allen e o narrador problemático”, Paul Dixon –
professor de literatura brasileira e hispano-americana na Purdue
University –, explora ressonâncias de Machado de
Assis no cineasta norte-americano. Para isso, o ensaísta vale-se do romance=
Memórias Póstumas e dos filmes “No=
ivo
neurótico, noiva nervosa” e “Memórias”.
A professora de
literatura inglesa da USP, Sandra Guardini Teix=
eira
Vasconcelos, no texto “Rosa, leitor de Machado”, disserta sobre as menções a
Machado de Assis feitas por Guimarães Rosa e sobre os projetos estéticos de
ambos os escritores. A obra de Machado aparece em anotações de Guimarães Ro=
sa,
que tentou manter o máximo de discrição a respeito de suas opiniões sobre o
escritor fluminense e, conforme Vasconcelos, parece ter sido uma sombra par=
a o
criador de Grande Sertão: veredas=
i>.
O último ensaio da ob=
ra,
“Machado de Assis na biblioteca portuguesa: Pedro
e Paula, de Helder Macedo, e o modelo virado do avesso”, é de autoria de
Teresa Cristina Cerdeira da Silva, professora de literatura portuguesa da U=
FRJ
e bolsista do CNPq. A ensaísta discorre sobre as alusões ao romance Esaú e Jacó presentes na obra de Helder Macedo, para quem as relaç=
ões
com a narrativa machadiana iniciam no título, com a alusão aos gêmeos Pedro=
e
Paulo, e percorrem a obra em um cotejo intertextual.
Os ensaios reunidos e=
m Machado de Assis: permanências cum=
prem o
exposto pelos organizadores: discorrem sobre as relações de autores, cujas
produções posteriores às “bruxo do Cosme Velho”, com ele dialogam. Por engl=
obar
ensaios de um seleto grupo de pesquisadores, a maioria com ampla experiênci=
a na
investigação da obra machadiana, o livro Machado
de Assis: permanências é destinado a acadêmicos da área de Letras e a
interessados nos estudos da obra de Machado de Assis. De modo geral, os tex=
tos
do livro corroboram com o posicionamento dos organizadores, Hélio de Seixas=
e
Marta de Senna, exposto na Apresentação: Machado de Assis não deixou seguid=
ores
de seu projeto artístico e estilístico e continua a se apresentar como uma
figura ímpar na literatura nacional.